No ano passado, receitas do setor chegaram a R$ 205,1 bilhões, montante quatro vezes maior do que sete anos atrás; São Paulo é destaque tanto nas vendas como no consumo
O comércio eletrônico brasileiro vendeu, em 2023, o maior montante da sua história, segundo um grande estudo produzido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). No total, as receitas somaram R$ 205,1 bilhões — expansão tímida de 0,2% em relação a 2022 [gráfico 1]. É significativo que, há sete anos, esse montante era quatro vezes menor (R$ 53 bilhões em 2016, considerando a inflação).
Tão relevante quanto é o fato de o e-commerce ter consolidado a própria posição no varejo nacional, representando o equivalente, atualmente, a 6,9% de todas as vendas desse imenso setor que dinamiza a economia do País e tem força relevante na composição do Produto Interno Bruto (PIB). Sete anos atrás, esse porcentual era de 2,4% [gráfico 2].
O smartphone foi o produto campeão de vendas de 2023, com um volume de compras de R$ 10,8 bilhões no setor. Esse valor é quase o dobro da segunda mercadoria mais adquirida pela internet no ano (livros e impressos semelhantes), somando R$ 6,7 bilhões. Na sequência, estão aparelhos de televisão (R$ 5,6 bilhões) e geladeiras (R$ 5,3 bilhões).
O estudo foi produzido com base em uma série de relatórios de transações de notas fiscais do Observatório do Comércio Eletrônico Nacional — ligado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Serviços e Comércio (MDIC) —, no IBGE e em números coletados pela própria FecomercioSP.
Na análise da Federação, a pandemia de covid-19 foi um momento definitivo para o salto do comércio eletrônico. Em 2020, por exemplo, o setor aumentou o faturamento em 80,9% em comparação ao ano anterior — último antes da crise sanitária. Foi uma elevação quase quatro vezes maior do que a registrada entre 2018 e 2019. Desde então, o e-commerce sustentou esse avanço das receitas, ainda que não na mesma velocidade. O ano de 2023 foi o segundo em que o volume total ficou acima dos R$ 200 bilhões.
Mas não só isso: segundo a Entidade, fatores que, antes, exerciam um papel decisivo no reforço da preferência dos consumidores pelo varejo físico — como o longo prazo de entrega dos produtos comprados online, a insegurança em disponibilizar dados bancários na internet e o próprio acesso da população à modalidade do cartão de crédito — foram superados. As empresas do e-commerce diminuíram substancialmente esses intervalos logísticos, às vezes entregando os itens no mesmo dia da compra, e criaram estruturas financeiras mais confiáveis para pagamentos. Em paralelo, o cartão assumiu lugar importante no orçamento das famílias brasileiras.
DAVA PARA CRESCER MAIS?
Por outro lado, a FecomercioSP entende que havia espaço para uma alta ainda mais forte no ano passado, o que não se confirmou por uma série de fatores, desde a conjuntura econômica — marcada pela inadimplência da população (24% das famílias paulistanas conviveram com contas atrasadas no primeiro semestre daquele ano) e por juros altos, que encareceram a tomada de crédito.
Como esse contexto mudou em 2024, a previsão é de que o comércio eletrônico volte a registrar um número recorde de vendas ao fim deste ano. Conta para esse otimismo, por exemplo, a elevação das receitas do varejo físico no primeiro semestre (5,1%), aliada a uma inflação controlada, uma taxa de desemprego baixíssima (6,6% no trimestre encerrado em agosto, segundo o IBGE) e, por consequência, uma massa de renda maior das famílias.
SÃO PAULO COMO MAIOR MERCADO
Os dados da FecomercioSP ainda mostram que São Paulo é o maior mercado consumidor de produtos no e-commerce, assim como é de onde sai a maior parte das vendas para outras unidades federativas, levando em conta apenas transações realizadas por empresas sediadas no Brasil e entre empresas e consumidores. No ano passado, 32% de toda a movimentação do setor, em nível nacional, foi realizada em São Paulo. Em outras palavras, de cada R$ 100 que circularam pelo comércio eletrônico do País, R$ 33 passaram pelo mercado consumidor paulista.
Dois outros estados do Sudeste completaram esse pódio — Minas Gerais (R$ 23,1 bilhões, ou 11,3% de todas as vendas do e-commerce) e Rio de Janeiro (R$ 19,9 bilhões). De acordo com a Entidade, são dados que se explicam, dentre vários fatores, pela maior facilidade logística da região e pela sua participação mais intensa na composição do PIB brasileiro [tabela 1].
Da mesma forma, São Paulo é o maior emissor de produtos comprados online no País, em uma posição ainda mais determinante: um a cada dois itens intercambiados no e-commerce brasileiro sai do estado. Em termos porcentuais, esse volume chega a 48,5%
Trata-se de um fato já esperado, uma vez que a estrutura paulista foi fortalecida nos últimos anos, com grandes centros de distribuição construídos às margens de rodovias e aeroportos que figuram entre os melhores do Brasil — além de, no caso da malha aérea, permitir conexões com todos os outros estados.
Minas Gerais está na segunda colocação nesse quesito (12,3%) — que pode ser explicada pelos investimentos realizados na cidade de Extrema, na divisa com São Paulo, permitindo que o estado usufrua do amplo mercado consumidor paulista —, seguido pelo Espírito Santo (7,2%). No total, sete em cada dez produtos (73%) adquiridos na internet são enviados pela Região Sudeste, de acordo com os dados.